A origem religiosa e regional foram os eixos de estruturação da vida social da colônia sírio-libanesa. As diferenças religiosasO cristianismo oriental divide-se em quatro grupos: os Maronitas, predominantes no Líbano; a Igreja Ortodoxa, presente no Líbano e em maior número na Síria, porém com grande penetração no mundo eslavo; os Melquitas, na Síria, Palestina e Egito e os Coptas, no Egito. Os Maronitas têm como chefe espiritual o Patriarca de Antióquia, leem a Bíblia em árabe e estão em união estreita com a Igreja Católica Romana, pois o Patriarca é confirmado por Roma. Os Melquitas estão sujeitos ao Patriarca de Antióquia, estão vinculadas à Santa Sé, mas seguem o ritual bizantino. Os Ortodoxos creem conservar a doutrina e ritual dos Apóstolos, daí a denominação. Não possuem um Papa nem outra autoridade suprema, mas uma federação de igrejas autônomas, que celebram o culto em sua própria língua e costumes. Os Coptas, por fim, acreditam somente na divindade do Cristo, recusando a sua humanidade. Sua linguagem litúrgica provém do egípcio antigo mas escrito com maiúsculas gregas, sendo uma "língua morta" só usada em caráter religioso. O chefe espiritual é o Patriarca de Alexandria. entre esses imigrantes teve forte influência sobre a formação de redes de associações comerciais, religiosas, culturais e beneficentes.

Associações religiosas

Em São Paulo, desde 1890 a comunidade maronita vem realizando suas celebrações litúrgicas. A primeira igreja foi erguida no Parque D. Pedro, nas proximidades da rua 25 de Março, tendo sido destruída nas obras de reurbanização do local. Em 1897, já se haviam instalado no país as Igrejas Ortodoxa e Melquita.

Somente em 1942, a Sociedade Beneficente Muçulmana, lançou a pedra fundamental para a construção de uma mesquita na avenida do Estado. Explica esta iniciativa tardia, se comparada às anteriores, o tamanho reduzido do grupo muçulmano: não mais do que 3.053 membros, sendo que desses, 1.393 estavam em São Paulo e 767 no Rio de Janeiro, conforme registra o Censo Demográfico de 1940.

Movimento associativo

Os movimentos associativos tiveram como elementos aglutinadores primários a religião e a origem dos imigrantes. Isto explica, em grande parte, as divisões dentro da própria colônia sírio-libanesa, sendo impossível organizar uma sociedade que representasse toda a colônia. Eram muitas as diferenças religiosas, bem como acirradas as rivalidades regionais e de famílias.

O movimento associativo expandiu-se depois de 1903, quando foram identificadas:

  • em São Paulo, 4 associações
  • no Rio de Janeiro, 3, além da Sociedade São Nicolau, da Irmandade Maronita e da Sociedade Patriótica Homciense, ligada à aldeia de Homs.

Esses números foram se multiplicando até atingirem a cifra de 121 entidades, apenas na capital de São Paulo, e outras 60 no interior do Estado.

As diferenças afloraram também nas associações esportivas ou beneficentes. Quando da fundação do Esporte Clube Sírio, em 1907, os libaneses tentaram judicialmente colocar o nome do país. Na impossibilidade, fundaram o Clube Atlético Monte Líbano. O Hospital Sírio-Libanês começou como Hospital Sírio. Contudo, as diferenças entre os grupos étnicos fizeram com que os sírios se retirassem da Sociedade Beneficente de Damas Pró-Hospital Sírio-Libanês, partindo para a fundação do Hospital do Tórax, atual Hospital do Coração.

Jornais e periódicos em geral

Os periódicos se multiplicaram atendendo às diferenças religiosas e rivalidades de grupos.

Entre 1895 e 1971, foram publicados cerca de 160 periódicos dirigidos à colônia sírio-libanesa.

Em 1971 havia em São Paulo:

  • um jornal publicado duas vezes por semana;
  • três semanários;
  • três mensários;
  • uma livraria especializada, aberta em 1902;
  • 14 tipografias especializadas.

Em 1941, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) proibiu a circulação de qualquer publicação em língua estrangeira e não se sabe o número dos periódicos que voltaram a ser publicados em português.

A escola

A educação escolar sempre foi incentivada entre os sírios e libaneses, sendo que, em 1897, já havia uma Escola Sírio-Francesa (Maronita) em São Paulo. Nos anos seguintes, foram fundados na capital paulista o Ginásio Oriental (1912), o Colégio Sírio-Brasileiro (1917), o Colégio Moderno Sírio (1919) e o Liceu São Miguel (1922). No Rio de Janeiro, foi fundada a Escola Cedro do Líbano, em 1935, e, em Campos, a Escola Árabe.

Quanto à escolaridade de nível superior, principalmente, nos campos das profissões liberais como advocacia, medicina e engenharia, os árabes conseguiram atingir percentuais próximos aos de outras colônias estrangeiras mais numerosas. Neste nível de escolaridade, o investimento familiar privilegiava os homens. Há relatos de casos de famílias em que o sacrifício para a formação de "doutores" foi muito grande. Por outro lado, as mulheres não recebiam incentivo para se profissionalizarem, limitando-se, na maioria dos casos, à obtenção do diploma.


© 2024 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
QRCode desta página