A partir de meados do século XIX, o perfil do imigrante português sofreu uma radical transformação: entre os que chegavam predominavam os de origem pobre; as mulheres passaram a representar parcelas cada vez maiores dos grupos de emigrantes, e as crianças menores de 14 anos, pobres, órfãs ou abandonadas, chegaram a representar 20% do total de emigrados.


Carlos JuliãoMuito pouco se sabe sobre Carlos Julião e o que ficou registrado são mais suposições do que certezas. Artista do final do século XVIII que, provavelmente, acompanhava as construções de fortes, visto que seus desenhos, em geral, se prendem à temática de Cavalaria de Guarda. Esteve no Brasil, (no Rio de Janeiro e em Minas Gerais) de passagem, a caminho do Oriente. "Riscos Iluminados..." é o nome pelo qual é conhecida a coleção de seus desenhos.

Alguns acontecimentos contribuíram para a mudança:

  • o aumento expressivo da população portuguesa: a taxa de crescimento que em 1835 foi 0,08% pulou para 0,75% em 1854 e para 0,94% em 1878;
  • a mecanização de algumas atividades agrícolas, produzindo um excedente de trabalhadores no campo;
  • o empobrecimento dos pequenos proprietários rurais que se multiplicaram e engrossaram as fileiras dos candidatos à emigração. O aumento deles foi de tal ordem que permitiu um significativo fluxo de emigrantes não apenas para o Brasil, mas também rumo aos Estados Unidos e, posteriormente, em direção à África.

Portugueses pobres no Brasil

 

Esses pequenos proprietários rurais pobres, rudes, originários do norte de Portugal, da região do Minho, contribuíram para a formação da imagem negativa e preconceituosa do imigrante português, estigmatizando-os como pessoas pouco qualificadas intelectualmente.

Na segunda metade do século XIX, já aparecem os primeiros livros de anedotas, fazendo críticas sutis à herança colonial. O anedotário deve ser entendido como o lado mais popular do debate entre políticos e intelectuais do país que se preocupavam, sobretudo, em definir e afirmar a identidade nacional. Nesse contexto, as anedotas expressavam a rejeição do povo brasileiro ao seu passado colonial.

Os imigrantes pobres são retratados por um escritor da década de 1820, Raimundo da Cunha Mattos. Diz ele que o português pobre, ao desembarcar nos portos brasileiros, vestia polaina de saragoça, (...) e calção, colete de baetão encarnado com seus corações e meia (...); geralmente desembarcavam dos navios com um pau às costas, duas réstia de cebolas, e outras tantas de alhos... e ... uma trouxinha de pano de linho debaixo do braço. Eram minhotos que, para sobreviver, dormiam na rua e procuravam ajuda de instituições de caridade.


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