Diferenças culturais
O que marcou a presença do imigrante japonês no Brasil foram os seus traços físicos e culturais, especialmente quando comparados aos imigrantes europeus.
Nos primeiros anos de imigração, a realidade que encontraram no Brasil era completamente desconhecida, diferindo em tudo do modo de vida japonês, das pequenas às grandes coisas:
- da estrutura da casa e do peso da tradição familiar, do chão de tatami e do banho de furô;
- muitos dos que foram trabalhar nas lavouras de café sequer conheciam o sabor que tinha esta bebida amarga e escura.
- do preparo dos alimentos, de cozinhar com banha e usar temperos como o alho à organização da economia doméstica. Como se poderia imaginar que o feijão aqui se comia salgado, e não doce, como no Japão? Na perspectiva oposta, o espanto foi o mesmo.
- da aprendizagem da língua à relação com outros imigrantes e brasileiros.
Preservação da identidade japonesa
Na tensão entre os diferentes mundos de que se cercavam, os imigrantes buscavam preservar suas tradições e costumes como podiam.
- Nas escolas que formavam, as crianças eram ensinadas em japonês, em pleno interior do Brasil. Até a Segunda Guerra, as crianças aprendiam a história do Japão, sua geografia, conhecendo o nome de seus rios, mas pouco sabiam sobre a história do Brasil ou sequer tinham noção da dimensão do país que passaram a habitar.
- Em casa, reinventavam os alimentos de sua terra com os produtos que cá encontravam, como a conserva salgada feita com mamão, ao invés de nabo. Fabricavam o missô, pasta de soja fermentada, tornando mais familiares suas refeições com os ingredientes brasileiros. Mas também adaptavam-se ao gosto do feijão e da mandioca, alimentos básicos de que nenhum imigrante, seja qual fosse a nacionalidade, podia prescindir para enfrentar o trabalho na lavoura.
- Como forma de manutenção de sua identidade cultural, a comunidade nipônica no Brasil manteve-se fiel ao Shindô, que é a incorporação da tradição religiosa japonesa ligada ao mito de origem imperial do Japão.
O abrasileiramento
Mas o certo é que nenhum confronto resistiu às trocas culturais e sociais entre a comunidade de imigrantes e a sociedade mais ampla que os acolheu.
- As gerações sucessivas de descendentes dos primeiros imigrantes, sanseis (terceira geração) e yonseis (quarta geração), mais do os nisseis (segunda geração), menos imersos nas tradições mantidas pelas colônias, mostram-se mais integrados à cultura brasileira que a geração de seus pais e avós.
Grande parte das novas gerações não falam o japonês. Raramente, entretanto, deixa-se de notar entre os descendentes a presença forte de alguns valores tradicionais, como o espírito do Bushidô, do guerreiro que possui sobre si o autocontrole. São ensinamentos passados pelos imigrantes da era Meiji que orientaram a conduta das gerações de descendentes frente ao trabalho e à família, e que de certa forma, contribuíram para criar a imagem dos descendentes de japoneses como "estudiosos", "inteligentes" e "disciplinados".
Migração de retorno
Nos últimos anos, o movimento migratório de nisseis e sanseis para o Japão é um medidor desta vivência cultural dos japoneses e seus descendentes no Brasil: são o verso e reverso da história da imigração japonesa, nas suas contradições e na afirmação identitária dos nikkeis como brasileiros.
A migração no sentido inverso da corrente que trouxe seus antepassados começou na década de 80.
Este novo fluxo migratório é conseqüência da conjuntura econômica:
- do lado do Japão, a sua nova inserção na economia mundial. Em plena fase de crescimento econômico, o governo japonês passou a chamar trabalhadores do Brasil que tivessem ascendência japonesa para trabalhos de caráter temporário e pouco especializados, não preenchidos pelos trabalhadores do país. A consanguinidade foi um argumento utilizado para que se fizesse em caráter oficial tal seleção de trabalhadores de fora do Japão.
- do lado do Brasil, a crise econômica. Muitos setores da classe média viam a emigração para outros países como um projeto viável para a recuperação ou melhoria de seu padrão de vida.
Tomoo HandaJaponês, nascido em 1906 em Utsonomiya, Japão. Veio para o Brasil em 1917, juntamente com seus pais, indo morar e trabalhar no interior do estado de São Paulo. Pintor e historiador, muito escreveu sobre a imigração japonesa. Em 1932, entrou para a Escola de Belas Artes na capital paulista.