Os imigrantes e seus descendentes mantiveram uma forte ligação com a cultura e a sociedade de origem, apesar das pressões no sentido de sua integraçãoPressões governamentais para a integração dos imigrantes Desde o advento do Governo Republicano, foram implementados programas de formação de colônias mistas de povoamento, ou seja, colônias formadas por imigrantes de várias origens, além de brasileiros. O interesse do governo nessas colônias se justificava, dentre outras, por razões relacionadas ao ideal de branqueamento da "raça brasileira", o que se daria por meio da mestiçagem de alemães com outros grupos. Além disso, o poder público se preocupava com a formação de "quistos étnicos" no Brasil. à vida nacional.
De fato, com uma identidade étnicaÉ definida a partir de elementos como a língua falada no âmbito das relações familiares, hábitos familiares e outros costumes, como os padrões alimentares, a valorização do "morar bem" ou "viver bem". bem definida, os alemães, como os outros grupos de imigrantes, também foram assimilados e aculturados pela sociedade local.
Entre eles, pouco a pouco, os traços de germanidade tornaram-se mais débeis. A língua alemã passou a ser falada menos em público. Diminuíram também as atividades das sociedades e clubes recreativos. A educação passou a ser feita na língua portuguesa. Em certos meios, ser alemão passou a assumir uma conotação inferior, de negação ou de exclusão.
A escola
Um dos exemplos mais significativos de resistência culturalA defesa da identidade étnica e cultural das populações de origem ou descendência alemã estabeleceu uma espécie de ideologia, o Deutschtum ou "germanismo". foi a criação e a manutenção de escolas alemãs vinculadas a comunidades evangélicas e católicas nas colônias.
Tendo os imigrantes vivido isolados durante algumas décadas, as primeiras escolas e igrejas foram organizadas por eles mesmos.
Em torno da escola, como também da igreja e de associações, o apego às tradições e a preservação de elementos culturais se estendeu a diversas gerações, persistindo mais ou menos até os dias atuais. Pode-se afirmar que alguns dos elementos de preservação e difusão da língua, identidade e cultura alemãs por parte dos imigrantes e descendentes, referem-se à escola comunitária, à imprensa, à ênfase ao associativismo, à organização das comunidades religiosas, dentre outros.
Estatística das Escolas Alemães no Brasil - 1931
Estado | Evangélica - Escolas | Evangélica - Alunos | Católica - Escolas | Católica - Alunos | Mista - Escolas | Mista - Alunos | Total - Escolas | Total - Alunos |
RS | 549 | 18.938 | 362 | 16.666 | 41 | 1474 | 952 | 37.078 |
SC | 116 | 4.874 | 80 | 4.920 | 82 | 3.052 | 297 | 12.346 |
PR | 10 | 309 | 7 | 1.142 | 17 | 731 | 34 | 2.182 |
SP | 6 | 295 | 2 | 609 | 21 | 2.261 | 29 | 3.165 |
RJ | 1 | 30(*) | - | - | 4 | 400(*) | 5 | 430(*) |
ES | 21 | 705 | - | - | 1 | 12 | 22 | 717 |
MG | 2 | 76 | - | - | - | - | 2 | 76 |
BA | - | - | - | - | 2 | 67 | 2 | 67 |
PE | - | - | - | - | 1 | 20(*) | 1 | 20(*) |
GO | - | - | - | - | 1 | 15(*) | 1 | 15(*) |
Total | 705 | 25.227 | 451 | 23.337 | 169 | 8.032 | 1345 | 56.596 |
Fonte: MAUCH, C., VASCONCELOS, N.(Org.). Os alemães no sul do Brasil: cultura, etnicidade e história. Canoas: Ed. Ulbra, 1994. p.157.
(*) Totais sem confirmação
De uma forma geral, o governo imperial e os governos das províncias não se preocuparam com a educação nas colônias. Assim, as escolas surgiram, sobretudo, para evitar o problema do analfabetismo.
Inicialmente, eles próprios tomaram a iniciativa de estabelecer escolas comunitárias e depois particulares, que, com o tempo, se transformaram em "escolas étnicas". Os professores dessas escolas, a princípio, eram pessoas da colônia, mas, com o desenvolvimento destas, vieram os religiosos, que, muitas vezes, se dedicavam, também, ao ensino. Da Alemanha vieram professores contratados pelos colonizadores para ensinar a ler, escrever e contar e para transmitir valores comunitários e culturais, mantendo assim costumes e tradições.
Por consequência, milhares de descendentes de imigrantes foram instruídos na língua alemã sem o conhecimento da língua oficial brasileira.
Aos poucos, o ensino da língua alemã acabou por estimular o crescimento e a divulgação de publicações de obras literárias e poéticas, de jornais, de revistas e de almanaques, tanto para o interior dos núcleos coloniais quanto para outras províncias, num período que se estendeu até 1939.
O resultado deste processo pode resumir-se no "teuto-brasileiro".
A capela
Assim como a escola, as capelas tiveram grande importância na vida dos imigrantes e descendentes alemães, pois serviam ao mesmo tempo como local de culto, escola e salão de festas. Esta organização em torno da capela remete a outro aspecto semelhante àquele desempenhado pelas associações assistenciais e recreativas: proporcionavam atividades de lazer e, ao mesmo tempo, representavam um lugar de preservação de costumes e hábitos que, aos poucos, foram sendo assimilados pelos brasileiros.