Este canal apresenta um breve panorama sobre o processo de ocupação do território brasileiro, com ênfase nas contribuições prestadas por distintos grupos étnicos. Para mais informações, acesse a publicação completa Brasil: 500 anos de povoamento.

Outro destino dos imigrantes italianos foram as cidades. Dentre elas, destacam-se São Paulo, que recebeu o maior contingente desta nacionalidade, e o Rio de Janeiro com seus arredores, por ser a capital do país e um dos portos mais importantes de chegada de imigrantes.

Em São Paulo, que chegou a ser identificada como uma "cidade italiana" no início do século XX, os italianos se ocuparam principalmente na indústria nascente e nas atividades de serviços urbanos. Chegaram a representar 90% dos 50.000 trabalhadores ocupados nas fábricas paulistas, em 1901.

No Rio de Janeiro, rivalizaram com portugueses, espanhóis e brasileiros. Em ambas as cidades, os imigrantes italianos experimentaram condições de vida e de trabalho tão árduas quanto as encontradas no campo.

 

Trabalho e inserção na vida urbana

 

 

Trabalho

 

Como operário industrial, o imigrante recebia baixos salários, cumpria longas jornadas de trabalho e não possuía qualquer tipo de proteção contra acidentes e doenças. Assim como no campo, era muito comum que todos na família tivessem que trabalhar, inclusive mulheres - muito usadas nas fábricas de tecidos e indústrias de vestuário - e crianças, mesmo menores de 12 anos.

Na condição de operários, era muito difícil ao imigrante melhorar de vida, financeira e socialmente. Portanto, não era raro que italianos e estrangeiros em geral desejassem trabalhar por conta própria, realizando serviços e trabalhos típicamente urbanos nas maiores cidades brasileiras.

Eram os mascates, artesãos e pequenos comerciantes; motorneiros de bonde e motoristas de taxi; vendedores de frutas e verduras, tanto como ambulantes, como em mercados; garçons em restaurantes, bares e cafés; engraxates, vendedores de bilhetes de loteria e jornaleiros. Entre os imigrantes bem-sucedidos que começaram "do nada", um exemplo é o do Conde de MatarazzoO Conde Francesco Matarazzo é o mito por excelência de empresário e imigrante italiano que veio "do nada" e cuja ascensão econômica e social foi fruto do "trabalho árduo". Na sua história de vida, o que se destaca, logo de início, é o fato de ter chegado ao Brasil, em 1881, "com as mãos abanando" e tendo apenas como referência um amigo que morava em Sorocaba. Uma história que ele, por sinal, jamais corrigiu. Entretanto, Matarazzo, como a maioria dos poucos italianos que enriqueceram muito no Brasil, provinha de uma família de classe média e chegou ao Brasil trazendo alguns recursos e uma clara idéia do negócio que desejava estabelecer: uma fábrica de banha. Obteve o apoio de banqueiros ingleses e atuou ele mesmo como banqueiro que se encarregava das remessas das economias de seus conterrâneos para a Itália. Construiu uma imagem também vinculada aos esportes, pois foi quem doou o terreno para a construção do estádio do Palestra Itália, transformado, em 1942 - e por causa da II Guerra - na Sociedade Esportiva Palmeiras..

Participação política

 

Os imigrantes italianos se envolviam em movimentos grevistas e participavam de associações, ligas e sindicatos, geralmente de orientação socialista e anarquista. Mas é um equívoco considerar que eram os estrangeiros que inculcavam as idéias "exóticas" entre os trabalhadores nacionais, apregoados como "pacíficos" e "despolitizados".

Na verdade, trabalhadores estrangeiros - dentre os quais italianos - e trabalhadores brasileiros participaram da formação de associações operárias, compuseram suas lideranças, fizeram greves e se viram reprimidos e presos pela polícia.

 

 

Moradia

 

Se as condições de trabalho eram insalubres, também o eram as de moradia, já que com frequência os imigrantes se instalavam em habitações coletivas - os cortiçosO termo "cortiço" foi mais usado na cidade do Rio de Janeiro, e indica moradias precárias. Eram conjuntos habitacionais, tipo sobrados, geralmente levantados ao redor de um pátio interno estreito e apertado. Além das péssimas condições de higiene - quartos de dormir quentes, pequenos, escuros, espaços prosmícuos e mal-cheirosos - os aluguéis eram altos, o correspondente a cerca de um quarto do salário do trabalhador. Nesses cortiços, situados no centro da cidade do Rio de Janeiro, predominavam os imigrantes estrangeiros, o que não ocorria com os cortiços localizados em outras áreas da cidade. (HAHNER, J. E. Pobreza e Política. Os pobres urbanos no Brasil - 1870/1920. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1993.) - ou nas "favelas", situadas nos morros. Por outro lado, em algumas cidades, podiam morar em determinados bairros étnicos - como o Brás e o Bexiga, em São Paulo - onde contavam com a cooperação e solidariedade dos vizinhos, o que em muito aliviava suas lides cotidianas.


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