Este canal apresenta um breve panorama sobre o processo de ocupação do território brasileiro, com ênfase nas contribuições prestadas por distintos grupos étnicos. Para mais informações, acesse a publicação completa Brasil: 500 anos de povoamento.

Razões da emigração japonesa

A emigração de trabalhadores japoneses para outros países teve início na década de 1870, bem antes de sua vinda para o Brasil. O Japão então passava pela Restauração Meiji (1868), o que implicou mudanças econômicas e políticas que inseriram o país no mundo moderno. Esse período foi marcado pela queda do xogunato e pela volta do poder às mãos do imperador, por força de uma nova constituição inspirada nas constituições ocidentais modernas.

Assim, do lado do Japão, a emigração foi um resultado da modernização que marcou uma nova etapa da história japonesa: o país se abriu para o mundo ocidental, celebrou tratados comerciais que, dentre outras coisas, viabilizaram a saída dos trabalhadores japoneses. Nesse período, a política emigratória teve como principal objetivo aliviar as tensões sociais internas advindas da escassez de terras e do endividamento dos trabalhadores rurais, muito em função dos projetos governamentais de modernização.

Do lado brasileiro, então, a necessidade da mão-de-obra para substituir o trabalho escravo foi o fator primordial, pois, desde a Independência, essa substituição já era uma preocupação das classes dirigentes. No entanto, uma política imigratória mais definida só viria a ganhar importância na agenda governamental com o fim do tráfico de escravos.

O fluxo migratório em direção ao Brasil, entretanto, só se intensificou a partir da primeira década do século XX, justamente quando o governo norte-americano - destino preferencial dos emigrantes japoneses - vetou a imigração japonesa.

 

 

Resistências à imigração japonesa

 

 

 

O que marca a presença do imigrante japonês no Brasil são as reações causadas pelas suas diferenças étnicas, ou seja, físicas e culturais. Tais diferenças eram enfatizadas nos debates sobre a sua entrada no país, argumentando-se que os japoneses constituiam-se como um povo impossível de se integrar à cultura local.

Apesar da preocupação com a escassez de mão-de-obra, o governo brasileiro não incentivou a imigração de trabalhadores japoneses, senão mais tardiamente. Essa atitude do governo brasileiro condiz com o conjunto de idéias que predominavam no país naquele período.

Durante todo o século XIX, predominou na sociedade brasileira o ideal de branqueamento da população que era não só visto como possível de ser realizado, como igualmente desejável para que nos tornássemos um país "civilizado".

Por este motivo, nos debates das elites brasileiras sobre a imigração, era forte a resistência à entrada de asiáticosDurante todo o século XIX, nos debates das elites brasileiras sobre a imigração, a entrada de asiáticos no país era questão controversa. Naquele momento, a preferência racial das elites estava explícita na ideologia do branqueamento e no projeto de fazer do Brasil um país "civilizado". Tanto a primeira quanto o segundo forneciam fortes argumentos para favorecer a entrada de imigrantes europeus e dificultar a vinda de trabalhadores asiáticos. no país, o que explica o decreto de 28/6/1890, em vigor até o início do século XX, restringindo a entrada desses imigrantes.

Por causa das diferenças físicas e culturais, os trabalhadores japoneses eram vistos como não-assimiláveis, necessitando de vigilância permanente. Essa percepção persiste pelo menos até o Estado Novo, explicando, em parte, a política imigrantista do governo Vargas em relação à comunidade nipo-brasileira.

Assim, no período do Estado NovoDitadura Vargas que se iniciou com o golpe de 10/11/1937 e terminou em 29/10/1945 com sua deposição pelos militares. Nessa mesma data, foi outorgada a Constituição, elaborada pelo jurista Francisco Campos, a partir de concepções autoritárias dos regimes fascistas europeus. Na prática, entretanto, esta Carta Constitucional não vigorou, visto que até 1945 Vargas governou por meio de decretos-lei. O período do Estado Novo se caracterizou pela centralização do poder no Executivo e pela ação intervencionista do Estado. O governo foi apoiado por alguns setores da classe média e pelo operariado, sensibilizado pela imagem de Vargas como "o pai dos pobres"., ocorreram momentos de tensão nas relações entre a comunidade nipo-brasileira e o poder público.

Nesse período, as desconfianças e os preconceitos em relação aos nikkeis (a comunidade de descendentes de japoneses) podem ser identificados nos discursos oficiais, como aquele proferido pelo ministro da Justiça Francisco Campos, em 1941, defendendo a proibição da entrada de quatrocentos japoneses em São Paulo:

"seu padrão de vida desprezível representa uma concorrência brutal com o trabalhador do país; seu egoísmo, sua má-fé, seu caráter refratário, fazem deles um enorme quisto étnico e cultural localizado na mais rica das regiões do Brasil"

Após o término da Segunda Guerra, o clima de desconfiança em relação aos imigrantes e descendentes ainda perdurou, dentre outras razões, pelo fato de serem estes tomados por "inimigos" do país que habitavam.


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